A evolução do conceito de risco: uma análise histórica da bibliografia PDF Imprimir e-mail
Escrito por Carlos Gomes de Oliveira   
02-Mai-2012
A evolução do conceito de risco: uma análise histórica da bibliografia 

(cont. do nº anterior)

3. O conceito de risco

É comum, seja na linguagem corrente seja em muitas publicações com caráter mais ou menos científico, uma interpenetração de âmbitos dos conceitos de perigo e de risco. (...)

(...) E este facto tem levado, numa análise histórica, a diversas interpretações, com a consequente dificuldade de estabelecer regras com base em conceitos, eles próprios pouco definidos.

A importância de que se podem revestir as diferentes formas de atuação que corporizam, afinal, a gestão do risco parecem evidentes, mas, no entanto, não é bem assim. A prová-lo, a situação mais do que incipiente do tratamento do risco em tantas e tão importantes áreas da atividade económica, o papel subalterno da segurança integrada e da gestão dos ris cos nas áreas de preocupação do tecido empresarial português (com honrosas, mas raras exceções), a falta de preparação, nomeadamente ao nível escolar, da maioria das pessoas para pode rem fazer face a situações de crise ou catástrofe natural e a omnipresença de enormes lacunas no enquadramento legal destes problemas (a par de numerosas áreas de interface, por vezes contraditórias, na numerosa e extensiva produção legislativa) são prova eloquente do que se afirma.

Foi com a expansão marítima portuguesa e castelhana que a noção de risco se alargou, incorporando a dimensão espacial. A dimensão temporal viria a ser aglutinada posteriormente, muito devido ao funcionamento da economia, nomeadamente dos mercados financeiros (Roxo, 2004).

Como referia Oliveira e Macedo, 1996, ?O desenvolvimento do conceito de cindínica (de ???????/?? ? perigo, empreendimento arriscado em grego clássico) que surgiu há alguns anos e que deu origem ao Institut Éuropéen des Cyndiniques surge a partir dos anos 80 do Século passado, como émulo das escolas de Risk Management (Saint-Gall; Macon, U.S.A.) e do próprio Clube de Roma (Orio Giarini, Walter Stahel). Todas se baseiam na ideia de perigo, de incerteza, de risco indesejado, do ?total loss control necessity? (Frank E. Bird, Jr.). 

A cindínica, cujo desenvolvimento se deve, em parte, ao impacto mediático de tragédias como as de Bhopal, Exxon-Valdez, Tchernobyl, Kobé, Prestige, Deepwater Horizon, para citar apenas alguns casos exemplares, procura, de forma mais sistemática, estabelecer leis, recorrendo às últimas aquisições de diversas áreas, duma forma que supere, complementando e integrando, as teorias de Heinrich, 1931, sobre custos directos e indirectos do acidente (identificando-o com ?erro humano?), as teorias de Bird, Fletcher e Skiba e mesmo as de Willie Hammer, que identifica o acidente com a ?deficiente engenharia de sistemas, de gestão ou de organização?. 

A análise do perigo/risco e das causas de ocorrência de acidentes não é nova. Sem remontar às escolas pitagóricas, tem-se presente a célebre polémica entre Jean Jacques Rousseau e Voltaire sobre as causas e consequências do terramoto de 1 de novembro de 1755, em Lisboa.

Voltaire, compadecido, acusava a Natureza, talvez os Deuses, pelo sismo enquanto Rousseau, prefigurando a teoria dos riscos controláveis, fazia notar que a decisão de edificar uma grande cidade numa zona reconhecidamente sísmica era resultante da falta de inteligência e sentido de responsabilidade dos homens. Não é à Natureza, dizia, que cabe modificar as Leis que a regem, mas ao Homem ser cuidadoso e prudente na localização das urbes onde escolheu viver. As deficiências sistemáticas de segurança estão na origem da maioria das catástrofes e dos índices aterrorizadores de acidentes de trabalho, de viação e pessoais com que a humanidade se debate?. 

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*Carlos Gomes de Oliveira

Docente no ISEC

Doutoramento em Higiene e Segurança no Trabalho

Actualizado em ( 07-Mai-2012 )