Doenças profissionais dos trabalhadores da educação: |
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Escrito por Luís Nascimento Lopes | |
28-Fev-2013 | |
Doenças profissionais
dos trabalhadores da educação:
um ensurdecedor silêncio
por: Luís Nascimento Lopes
Tal como prometido no meu artigo da revista anterior, após ter abordado em termos gerais as condições de segurança e saúde no trabalho existentes nas escolas portuguesas, passo agora a deter-me mais em pormenor nas condições de trabalho dos professores e restantes funcionários das nossas escolas. E começaria por referir que uma leitura da Lista Nacional das Doenças Profissionais, publicada pelo Decreto Regulamentar 6/2001 .......
.... e posteriormente republicada sempre que há uma atualização da Lista (sendo que a última republicação é de junho de 2007), poucas referências faz aos profissionais da educação, apesar de nas suas sucessivas atualizações, estes estarem cada vez mais presentes nas ?Listas exemplificativas dos trabalhos suscetíveis de provocar a doença?.
Infelizmente a maioria dos professores e outros profissionais da educação não sabem que algumas das patologias de que podem padecer sempre estiveram contempladas na Lista Nacional e poderão ser consideradas doenças profissionais. É o que acontece com as meningites e conjuntivites, com as doenças provocadas pelo bacilo da difteria em todas as suas formas clínicas e complicações tardias, com a hepatite A, com o vírus da varicela-zoster, com a rubéola, com o sarampo, com a parotidite e com a triquinose em todas as suas formas clínicas.
Mas outras há que vêm sendo incluídas nessa Lista: por exemplo, as dermatofitias cutâneas provocadas por fungos e que têm entre as suas potenciais vítimas os professores de educação física e os auxiliares de educação que
trabalham nos ginásios e piscinas das escolas.
Na sua última revisão a Lista foi alargada também a um dos principais conjuntos de patologias que mais afetam os professores: as laringites crónicas e as disfonias funcionais provocadas pelo uso continuado da voz. E isto abrange um alargado leque de patologias que constituem um dos principais flagelos que arruinam a saúde dos professores.
Em Portugal não dispomos (neste, como em tantos outros campos) de estudos aprofundados sobre esta matéria mas outros países há, na UE e fora dela, em que esses estudos existem e retratam uma realidade que não é, seguramente,
muito distinta da nossa. Por exemplo na Polónia, estudos realizados pelo Nofer Institute of Occupational Medicine, de Lodz, revelam que as patologias relacionadas com o aparelho vocal representam o grupo de maior incidência de doenças profissionais nesse país (cerca de 24,4%) e mais de 70% dos professores têm problemas temporários ou permanentes de voz que podem conduzir à afonia completa.
Igualmente importante é a conclusão do estudo que revela que entre os professores a prevalência de problemas nos órgãos vocais é 5 vezes superior à de outros profissionais que usam a voz como ?ferramenta?, como sejam os advogados, os sacerdotes ou mesmo os cantores. Acresce que em 2000 o Ministério da Educação polaco estimava que as doenças profissionais dos professores custavam anualmente ao Estado mais de 25 milhões de Euros.
E dessas doenças profissionais cerca de 94% eram problemas vocais. E este não é um problema polaco, mas sim
universal. Em Itália cerca de 51,4% dos professores têm problemas de voz ao longo da vida profissional, contra 25,9% dos restantes profissionais; em Inglaterra mais de 60% dos professores apresentam patologias relacionadas com a voz; na Coreia do Sul, 67,2% dos professores sofrem de incapacidades temporárias ou permanentes em resultado de doenças profissionais, das quais 34,4% relacionadas com nódulos nas cordas vocais; na Austrália os professores do ensino secundário e os professores do ensino especial constituem o grupo profissional mais afetado por problemas no aparelho vocal.
Como já atrás disse, em Portugal não temos ?números?, mas não deverão andar muito longe dos que atrás apresentei, tal como as causas não deverão diferir significativamente.
E nesses países as causas estão claramente identificadas: ambientes ruidosos e más condições acústicas das instalações escolares, ambientes secos e grande concentração de poeiras (sobretudo de giz) no ar, correntes de
ar, stresse e falta de formação no uso da voz. E se as causas estão identificadas, as soluções (ou pelo menos algumas) também.
Assim, as instalações escolares, em vez de resultarem de importações cegas e francamente discutíveis de modelos e tipologias estrangeiras, deveriam ser concebidas, construídas e equipadas para proporcionarem o melhor ambiente acústico possível.
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Actualizado em ( 01-Mar-2013 ) |