Fatores Psicossociais de Risco no Trabalho: Uma Problemática, Diferentes Abordagens PDF Imprimir e-mail
Escrito por Lúcia Simões Costa   
18-Abr-2013

Fatores Psicossociais de Risco no Trabalho: Uma Problemática, Diferentes Abordagens

 

 por Lúcia Simões Costa*

(cont. do nº anterior)

2. Fatores Psicossociais de Risco: Uma Viagem ao Interior de um Vulcão Adormecido

O Vesúvio, um dos vulcões mais perigosos do mundo, é especialmente conhecido por ter entrado em erupção no ano 79 d.C. e destruído a cidade de Pompeia. Embora tenha entrado em erupção diversas vezes ao longo da história, atualmente está ?adormecido? e se entrar em erupção novamente vai colocar em risco a vida dos mais de 3 milhões de habitantes de Nápoles e de outras cidades próximas.

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É o vulcão mais vigiado do mundo e todas as suas vibrações e emissões gasosas são registadas sendo observado permanentemente por satélite. Por outro lado, o vulcão mais ativo do planeta é o Monte Yasur, que fica na Ilha Tana, no arquipélago de Vanuatu, no Oceano Pacífico. O Yasur mantém uma taxa constante de erupções nos últimos 111 anos, sendo que normalmente o intervalo das erupções não passa de cinco minutos, mas estas são classificadas como ?vulcanianas?, o que significa que a sua magnitude é pequena.

Qual o propósito de falar aqui de vulcões? A resposta é simples: os riscos psicossociais podem ser, figurativamente, vistos como vulcões adormecidos ou ativos e, tal como o Vesúvio e o Yasur, serem mais ou menos valorizados, vigiados e objeto de preocupação em função da forma como se olha para a sua ?atividade?. A ação dos riscos psicossociais no trabalho é vista de forma diferente, também, em função do que se observa e estuda relativamente aos mesmos. Noutros termos, vê-los como um vulcão ativo, como um Yasur, significa constatar a sua existência, bem como as consequências que deles podem advir para a segurança e saúde dos trabalhadores. Medir essas consequências, controlá-las, avaliar frequentemente a sua ?magnitude? será a grande preocupação a ter. Não sendo uma abordagem errada é, no entanto, incompleta.

Medir as consequências, identificá-las, quantificá-las, permite, dirão, ?reparar? os danos que as mesmas provocam nos trabalhadores, o que é correto, mas insuficiente. É, pois, necessário manter uma permanente atenção ao que está no interior do vulcão, ao seu funcionamento, ou seja, abordar os riscos ?adormecidos?, como se do Vesúvio se tratasse.

Monitorizar consequências é importante, mas a eficácia da prevenção dos riscos psicossociais terá de passar forçosamente por algo mais; ir ao interior do vulcão adormecido é ir ao local onde estão todas as razões que podem despoletar consequências e, mesmo quando elas não são visíveis com frequência, saber se podem aparecer e quão devastadora poderá ser a sua concretização.

Reafirma-se, assim, a questão de atender a que a avaliação dos riscos psicossociais não deve, meramente, ser feita a partir do estudo de um conjunto de consequências mais ou menos mensuráveis e quantificáveis, que dão uma informação relativa a um estado cujas causas podem ser muito diversificadas, mas sim a partir do conjunto de circunstâncias e fatores que lhe estão na origem.

(?)

*Lúcia Simões Costa

Doutoranda em Psicologia do Trabalho na Faculdade de

Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto

Mestre em Saúde Ocupacional

Licenciada em Psicologia do Trabalho

Professora-Adjunta da Escola Superior de

Tecnologia da Saúde de Coimbra
Actualizado em ( 22-Abr-2013 )