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Tristes estatísticas PDF Imprimir e-mail
Escrito por Cátia Granadeiro   
18-Dez-2007

Não tomem as estatísticas como verdades absolutas por aquilo que dizem, antes de considerarem aquilo que não dizem. (William W. Watt)

A morte de um homem é uma tragédia. A morte de milhões é uma estatística. (Stalin dirigindo-se a Churchill em Potsdam, 1945)

 

rev181_faz-nospensar01.jpgAo longo do ano de 2007 fomos lendo ou ouvindo notícias sobre mortes por acidentes de trabalho: electrocussão, queda de muros, deslizamento de terras e quedas em altura são alguns dos motivos que mais surgem noticiados.

Segundo os dados da Inspecção-Geral do Trabalho (IGT) desde Janeiro até 15 de Novembro de 2007 os acidentes mortais de trabalho tinham já tirado a vida a 129 trabalhadores, sendo que 66 destas mortes se deram no sector da construção civil (embora seja patente que outras mortes de trabalhadores se deverão a outros motivos que não os acidentes ? com causas menos óbvias e por vezes mais silenciosas, mas igualmente mortíferas). Na lista de sectores de actividade com mortes por acidentes de trabalho surgem-nos nos primeiros lugares, depois da construção civil, a indústria transformadora, o comércio e serviços, a agricultura, outros sectores, transportes e armazenagem e a administração pública/ regional ? respectivamente com 66, 22, 18, 11, 7, 4 e 1 ocorrências.

No gráfico ?Acidentes de trabalho mortais? podemos observar que, desde 2003, os acidentes de trabalho mortais na construção civil têm constituído sempre cerca de metade do total dos acidentes mortais de trabalho: 48,6% em 2003; 51,2% em 2004;  0,8% em 2005; 45,2% em 2006; 51,1% em 2007, até à data já referida.

Consultando o gráfico seguinte facilmente se percebe que a principal causa de acidentes de trabalho mortais é a queda em altura (com 50 mortes em 2007), seguida de outras causas não especificadas (28 mortes), do choque com objectos (17 mortes), do esmagamento (9 mortes) e da electrocussão (com 8 mortes), das máquinas (6 mortes), do soterramento (7 mortes) e, por fim, do atropelamento (4 mortes). Apesar de as estatísticas nos mostrarem indicadores úteis para a avaliação do estado actual dos acidentes e mortes por trabalho, o seu valor é por vezes relativo. Embora os números nos mostrem que, desde 2004, as mortes por acidentes de trabalho em Portugal têm diminuído, o facto é que continuam a ocorrer. É necessário, sem dúvida, inspeccionar e  "castigar? quem não cumpre a legislação vigente em matéria de SST, mas é também necessário prevenir e informar ? levar a cabo algum tipo de acção punitiva sem que tenha havido uma prevenção ou (in)formação prévia leva a que haja maior número de infracções, o que se revela ainda mais penalizador para as empresas e, também, para os próprios trabalhadores. Mas a responsabilidade não é apenas dos empregadores, passa também pelos trabalhadores, pelo Governo e pelos parceiros sociais. Os empregadores deveriam garantir boas condições de trabalho a todos os seus colaboradores, cumprindo a legislação em vigor, formando os trabalhadores e colocando à sua disposição os equipamentos e meios necessários para que pudessem desempenhar as suas funções em segurança. Os próprios trabalhadores, ao não terem essas boas condições de trabalho deveriam exigi-las, tarefa em que os parceiros sociais os deveriam auxiliar.
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Caberia ainda, ao Governo, não só melhorar a legislação em matéria de SHST e zelar para que esta fosse cumprida, mas também levar a cabo acções de prevenção e de informação, não apenas a nível dos trabalhadores e empregadores directamente envolvidos mas também a nível da sociedade em geral, para que houvesse uma maior consciencialização para esta questão. Se cada uma das partes envolvidas se esforçasse um pouco mais, se tivesse mais algumas  iniciativas, não seria de esperar que as estatísticas revelassem melhores resultados? É uma tarefa de todos. Do que estamos à espera?

Actualizado em ( 13-Mai-2008 )
 
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