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Programa de Ginástica Laboral: Influência na Prevenção de LMELT PDF Imprimir e-mail
Escrito por Correia, S., Guerra, C., Teixeira, T., Santos, E., Espírito-Santo, K., Carolino, E., Coutinho, I.   
03-Jul-2007
Resumo
A presente investigação pretendeu determinar a eficácia de um Programa de Ginástica Laboral (PGL) na prevenção de Lesões Músculo-Esqueléticas Ligadas ao Trabalho (LMELT). O PGL consistiu num programa de exercícios globais e combinados, aplicado a 130 operadores dos entrepostos da Módis/Sonae. A supervisão dos exercícios foi realizada, numa primeira fase, por fisioterapeutas e, numa segunda fase, pelos chefes de equipa da empresa, durante um período total de 4 meses. A avaliação da eficácia do PGL foi efectuada através de três questionários, aplicados a todos os operadores, em períodos distintos.
Pela análise dos questionários foi possível verificar que ocorreu uma redução do número de indivíduos com dor/incómodo e do número de operadores que recorreram à Fisioterapia.
Palavras-Chave
LMELT (Lesões Músculo-Esqueléticas Ligadas ao Trabalho); PGL (Programa de Ginástica Laboral); Produtividade.


r178_dossier.jpg1. Introdução
As lesões músculo-esqueléticas (LME) constituem um conjunto de condições clínicas que envolvem nervos, tendões, músculos e/ou outras estruturas de apoio, tais como discos intervertebrais. Estas podem variar em severidade, desde sintomas ligeiros e periódicos
e/ou esporádicos a condições crónicas e incapacitantes (Abreu & Cruz, 2000 cit. por Neves et al., 2003). Dentro das LME, o enfoque do presente trabalho prendeu-se com as que se relacionam com o trabalho ou a actividade profissional, denominadas LMELT.

Assunção (1995) (cit. por Longen, 2003), define as LMELT como "distúrbios de origem ocupacional que atingem dedos, punhos, antebraços, braços, ombros, pescoço e a região da cintura escapular, resultantes do desgaste muscular, tendinoso, articular e neurológico, provocado pela inadequação do trabalho ao ser humano que trabalha". Segundo Stuar-Buttle (1994) (cit. por Serranheira et al, 2003) as LMELT caracterizam-se por "dor, incómodo ou desconforto ao nível músculo-esquelético, sobretudo devido a situações e/ou postos de trabalho com elevadas exigências ao nível postural, de aplicação de força, de repetitividade ou por incorrecta distribuição das pausas".
Os elevados índices de LMELT acarretam graves problemas para a saúde dos trabalhadores e sua qualidade de vida e conduzem também a um aumento nas baixas laborais e consequente diminuição da produtividade da empresa. Surge, assim, a necessidade de prevenir a sua ocorrência, num esforço conjunto entre trabalhadores, empresas e profissionais de saúde. A fisioterapia pode intervir nesta prevenção através de medidas eficazes, entre as quais se salienta a ginástica laboral (GL).
A GL pode ser definida como o conjunto de práticas físicas programadas, de curta duração e baixa intensidade, em que se enfatiza o alongamento e a compensação das estruturas musculares envolvidas nas tarefas ocupacionais diárias. Estes exercícios podem ser realizados no âmbito preventivo e/ou terapêutico, sendo realizados no próprio local e durante o horário de trabalho com o vestuário inerente ao quotidiano laboral, sem levar o trabalhador ao cansaço. O objectivo é proporcionar a oportunidade para o uso diversificado do sistema locomotor e promover uma relação apropriada entre o trabalho e o repouso, permitindo uma boa recuperação da tarefa laboral (Cañete, 1996, Guerra, 1997, Maratona, 1999, Astrand e Rodahl apud Pimentel, 1999, cit. por Longen, 2003; SESI, 2002, cit. por Tirloni, 2005).
Os benefícios atribuídos à GL podem ser de natureza fisiológica, psicológica e social, influenciando a qualidade de vida do trabalhador, promovendo melhorias no contexto de trabalho e na produtividade deste (SESI, 2002, cit. por Tirloni, 2005). A nível fisiológico, a GL permite aumentar a condição física geral dos trabalhadores, diminuir a fadiga decorrente do trabalho, corrigir vícios posturais, promover a adequada consciência corporal e reduzir acidentes de trabalho (Dias, 1994, Militão, 2001, Polito e Bergamaschi, 2002 cit. por Longen 2003). Ao nível psicológico e social, a GL favorece a descontracção, estimula o auto-conhecimento e a auto-estima, proporciona uma possível melhoria no relacionamento interpessoal e do próprio indivíduo com o meio, aumentando ainda a disponibilidade e o ânimo para o trabalho. No fundo, a GL contribui para uma maior satisfação e qualidade de vida do trabalhador (Basso, 1989, Cañete, 1996 cit. por Longen, 2003; Polito e Bergamaschi, 2002).
Deste modo, um programa de ginástica laboral (PGL) visa a prevenção das LMELT, diminuindo as queixas, a prevalência e a incidência de baixas laborais, melhorando a qualidade de vida dos trabalhadores/operadores, aumentando a rentabilização dos recursos humanos e a produtividade das empresas. São vários os estudos que documentam a importância da implementação de um PGL na prevenção das LMELT.
Apesar dos diversos benefícios imputáveis à GL, estes variam, em cada contexto, tendo em conta as características e metodologias específicas do PGL aplicado. De acordo com os objectivos gerais a que se propõe, este tipo de actividade pode receber diferentes designações ou mesmo classificações e alcançar, no fundo, diferentes efeitos (Tirloni, 2005). De uma forma geral, as bases teóricas existentes dão conta de cinco tipos ou dimensões de GL (Longen, 2003; Tirloni, 2005):

  • Ginástica Laboral Preparatória (GLP);
  • Ginástica Laboral Compensatória (GLC);
  • Ginástica Laboral de Relaxamento (GLR);
  • Ginástica Correctiva (GLCT);
  • Ginástica de Manutenção ou Conservação (GM).

Actualizado em ( 15-Jan-2008 )
 
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